domingo, 19 de outubro de 2008

TAREFA 1 - PROINFO

A CAUSA SECRETA - MACHADO DE ASSIS

Garcia, em pé, miravam e estalava as unhas; Fortunato, na cadeira de balanço, olhava para o teto; Maria Luísa, perto da janela, concluía um trabalho de agulha. Havia já cinco minutos que nenhum deles dizia nada. Tinham falado do dia, que estivera excelente, — de Catumbi, onde morava o casal Fortunato, e de uma casa de saúde, que adiante se explicará. Como os três personagens aqui presentes estão agora mortos e enterrados, tempo é de contar a história sem rebuço.
Tinham falado também de outra cousa, além daquelas três, cousa tão feia e grave, que não lhes deixou muito gosto para tratar do dia, do bairro e da casa de saúde. Toda conversação a este respeito foi constrangida. Agora mesmo, os dedos de Maria Luísa parecem ainda trêmulos, ao passo que há no rosto de Garcia uma expressão de severidade, que não lhe é habitual. Em verdade, o que se passou foi de tal natureza, que para fazê-lo entender, é preciso remontar à origem da situação.
Garcia tinha-se formado em medicina, no ano anterior, 1861. No ano de 1860, estando ainda na Escola, encontrou-se com Fortunato, pela primeira vez, à porta da Santa Casa; entrava, quando o outro saía. Fez-lhe impressão a figura; mas, ainda assim, tê-la-ia esquecido, se não fosse o segundo encontro, poucos dias depois. Morava na rua de D. Manoel. Uma de suas raras distrações era ir ao teatro de S. Januário, que ficava perto, entre essa rua e a praia; ia uma ou duas vezes por mês, e nunca achava acima de quarenta pessoas. Só os mais intrépidos ousavam estender os passos até aquele recanto da cidade. Uma noite, estando nas cadeiras, apareceu ali Fortunato, e sentou-se ao pé dele.
A peça era um dramalhão, cosido a facadas, ouriçado de imprecações e remorsos; mas Fortunato ouviu-a com singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele redobrava, os olhos iam avidamente de um personagem a outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na peça reminiscências pessoais do vizinho. No fim do drama, veio uma farsa; Mas Fortunato não esperou por ela e saiu; Garcia saiu atrás dele. Fortunato foi pelo Beco do Cotovelo, rua de S. José, até o largo da Carioca. Ia devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava ganindo e ele ia andando. No largo da Carioca entrou num tílburi, e seguiu para os lados da praça da Constituição. Garcia voltou para casa sem saber mais nada.
Decorreram algumas semanas. Uma noite, eram nove horas, estava em casa, quando ouviu rumor de vozes na escada; desceu logo do sótão onde morava ao primeiro andar, onde vivia um empregado do arsenal de guerra. Era este, que alguns homens conduziam escada acima, ensangüentada. O preto que o servia, acudiu a abrir a porta; o homem gemia, as vozes eram confusas, a luz pouca. Deposto o ferido na cama, Garcia disse que era preciso chamar um médico.
— Já aí vem um, acudiu alguém.
Garcia olhou: era o próprio homem da Santa Casa e do teatro. Imaginou que seria parente ou amigo do ferido; mas, rejeitou a suposição, pagou aos carregadores, e deu as primeiras ordens. Sabendo que o Garcia era vizinho e estudante de medicina pediu-lhe que ficasse para ajudar o médico. Em seguida contou o que se passara.
— Foi uma malta de capoeiras. Eu vinha do quartel de Moura, onde fui visitar um primo, quando ouvi um barulho muito grande, e logo depois um ajuntamento. Parecem que eles feriram também a um sujeito que passava, e que entrou por um daqueles becos; mas eu só vi a este senhor, que atravessava a rua no momento em que um dos capoeiras, roçando por ele, meteu-lhe o punhal. Não caiu logo; disse onde morava, e, como eram a dous passos, achou melhor trazê-lo..
_ Conhecia-o antes? Perguntou Garcia. - Não, nunca o vi. Quem é?
- É um bom homem, empregado do arsenal de guerra. Chama-se Gouvêa. - Não sei quem é.
Médico e subdelegado vieram daí a pouco; fez-se o curativo, e tomaram-se as informações. O desconhecido declarou chamar-se Fortunato Gomes da Silveira, ser capitalista, solteiro, morador em Catumbi. A ferida foi reconhecida grave. Durante o curativo ajudado pelo estudante, Fortunato serviu de criado, segurando a bacia, a vela, os panos, sem perturbar nada, olhando friamente para o ferido, que gemia muito. No fim, entendeu-se particularmente com o médico, acompanhou-o até o patamar da escada, e retirou ao subdelegado a declaração de estar pronto a auxiliar as pesquisas da polícia. Os dous saíram, ele e o estudante ficaram no quarto.
Garcia estava atônito. Olhou para ele, viu-o sentar-se tranquilamente, estirar as pernas, meter as mãos nas algibeiras das calças, e fitar os olhos no ferido. Os olhos eram claros, cor de chumbo, moviam-se devagar, e tinham a expressão dura, seca e fria. Cara magra e pálida; uma tira estreita de barba, por baixo do queixo, e de uma têmpora a outra, curta, ruiva e rara. Teria quarenta anos. De quando em quando, voltava-se para o estudante, e perguntava alguma cousa acerca do ferido; mas tornava logo a olhar para ele, enquanto o rapaz lhe dava a resposta. A sensação que o estudante recebia era de repulsa ao mesmo tempo em que de curiosidade; não podia negar que estava assistindo a um ato de rara dedicação, e se era desinteressado como parecia, não havia mais que aceitar o coração humano como um poço de mistérios.
Fortunato saiu pouco antes de uma hora; voltou nos dias seguintes, mas a cura fez-se depressa, e, antes de concluída, desapareceu sem dizer ao obsequiado onde morava. Foi o estudante que lhe deu as indicações do nome, rua e número.
— Vou agradecer-lhe a esmola que me fez, logo que possa sair, disse o convalescente.
Correu a Catumbi daí a seis dias. Fortunato recebeu-o constrangido, ouviu impaciente as palavras de agradecimento, deu-lhe uma resposta enfastiada e acabou batendo com as borlas do chambre no joelho. Gouvêa, defronte dele, sentado e calado, alisava o chapéu com os dedos, levantando os olhos de quando em quando, sem achar mais nada que dizer. No fim de dez minutos, pediu licença para sair, e saiu.
— Cuidado com os capoeiras! Disse-lhe o dono da casa, rindo-se.
O pobre-diabo saiu de lá mortificado, humilhado, mastigando o custo a desdém, forcejando para esquecê-lo, explicá-lo ou perdoá-lo, para que no coração só ficasse a memória do benefício; mas o esforço era vão. O ressentimento, hóspede novo e exclusivo, entrou e pôs fora o benefício, de tal modo que o desgraçado não desde que lhe ouvira perguntar se este tinha família ou pessoa próxima. Disse-lhe o preto que não, e ele assumiu a direção do serviço, pediu às pessoas estranhas que se retirassem, teve mais que trepar à cabeça e refugiar-se ali como uma simples idéia. Foi assim que o próprio benfeitor insinuou a este homem o sentimento da ingratidão.
Tudo isso assombrou o Garcia. Este moço possuía, em gérmen, a faculdade de decifrar os homens, de decompor os caracteres, tinha o amor da análise, e sentia o regalo, que dizia ser supremo, de penetrar muitas camadas morais, até apalpar o segredo de um organismo. Picado de curiosidade lembrou-se de ir ter com o homem de Catumbi, mas advertiu que nem recebera dele o oferecimento formal da casa. Quando menos, era-lhe preciso um pretexto, e não achou nenhum.
Tempos depois, estando já formado, e morando na rua de Mata-Cavalos, perto da do Conde, encontrou Fortunato em uma gôndola, encontrou-o ainda outras vezes, e a freqüência trouxe a familiaridade. Um dia Fortunato convidou-o a ir visitá-lo ali perto, em Catumbi.
- Sabe que estou casado? - - Não sabia. - Casei-me há quatro meses podia dizer quatro dias. Vá jantar conosco domingo? — Não esteja forjando desculpas; não admito desculpas. Vá domingo.
Garcia foi lá domingo. Fortunato deu-lhe um bom jantar, bons charutos e boa palestra, em companhia da senhora, que era interessante. A figura dele não mudara; os olhos eram as mesmas chapas de estanho, duras e frias; as outras feições não eram mais atraentes que dantes. Os obséquios, porém, se não resgatavam a natureza, davam alguma compensação, e não era pouco. Maria Luísa é que possuía ambos os feitiços, pessoa e modos. Era esbelta, airosa, olhos meigos e submissos; tinha vinte e cinco anos e parecia não passar de dezenove. Garcia, a segunda vez que lá foi, percebeu que entre eles havia alguma dissonância de caracteres, pouca ou nenhuma afinidade moral, e da parte da mulher para com o marido uns modos que transcendiam o respeito e confinavam na resignação e no temor. Um dia, estando os três juntos, perguntou Garcia a Maria Luísa se tivera notícias das circunstâncias em que ele conhecera o marido.
- Não, respondeu a moça. – Vai ouvir uma ação bonita. – Não vale a pena, interrompeu Fortunato.
- A senhora vai ver se vale a pena, insistiu o médico.
Contou o caso da rua de D. Manoel. A moça ouviu-o espantada. Insensivelmente estendeu a mão e apertou o pulso ao marido, risonha e agradecida, como se acabasse de descobrir-lhe o coração. Fortunato sacudia os ombros, mas não ouvia com indiferença. No fim contou ele próprio a visita que o ferido lhe fez, com todos os pormenores da figura, dos gestos, das palavras atadas, dos silêncios, em suma, um estúrdio. E ria muito ao contá-la. Não era o riso da dobrez. A dobrez é evasiva e oblíqua; o riso dele era jovial e franco.
- Singular homem! Pensou Garcia.
Maria Luísa ficou desconsolada com a zombaria do marido, mas o médico restituiu-lhe a satisfação anterior, voltando a referir a dedicação deste e as suas raras qualidades de enfermeiro; tão bom enfermeiro, concluiu ele, que, se algum dia fundar uma casa de saúde, irei convidá-lo.
- Valeu? Perguntou Fortunato. – Valeu de quê
— Vamos fundar uma casa de saúde? Seria bem bom. Tenho justamente uma casa que vai vagar, e serve.
Garcia recusou nesse e no dia seguinte; mas a idéia tinha-se metido na cabeça ao outro, e não foi possível recuar mais. Na verdade, era uma boa estréa para ele, podia vir a ser um bom negócio para ambos. Aceitou finalmente, daí a dias, e foi uma desilusão para Maria Luísa. Criatura nervosa e frágil padecia só com a idéia de que o marido tivesse que viver em contacto com enfermidades humanas, mas não ousou opor-se-lhe, e curvou a cabeça. O plano fez-se e cumpriu-se depressa. Verdade é que Fortunato não curou de mais nada, nem então, nem depois. Aberta a casa, foi ele o próprio administrador e chefe de enfermeiros, examinava tudo, ordenava tudo, compras e caldos, drogas e contas.
Garcia pôde então observar que a dedicação ao ferido na rua de D. Manoel não era um caso fortuito, mas assentava na própria natureza deste homem. Via-o servir como nenhum dos fâmulos. Não recuava diante de nada, não conhecia moléstia aflitiva ou repelente, e estava sempre pronto para tudo, a qualquer hora do dia ou da noite. Toda a gente pasmava e aplaudia. Fortunato estudava, acompanhava as operações, e nenhum outro curava os cáusticos. Tenho muita fé nos cáusticos, dizia ele.
A comunhão dos interesses apertou os laços da intimidade. Garcia tornou-se familiar na casa; ali jantava quase todos os dias, ali observava a pessoa e a vida de Maria Luísa, cuja solidão moral era evidente. E a solidão como que duplicava o encanto. Garcia começou a sentir que alguma cousa o agitava, quando ela aparecia, quando falava, quando trabalhava, calada, ao canto da janela, ou tocava ao piano umas músicas tristes. Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração. Quando deu por ele, quis expedi-lo para que entre ele e Fortunato não houvesse outro laço que não o da amizade; mas não pôde. Pôde apenas trancá-lo; Maria Luísa compreendeu ambas as cousas, a afeição e o silêncio, mas não se deu por achada.
No começo de Outubro deu-se um incidente que desenvolveu ainda mais aos olhos do médico a situação da moça. Fortunato metera-se a estudar anatomia e fisiologia, e ocupava-se nas horas vagas em rasgar e envenenar gatos e cães. Como os guinchos dos animais atordoavam os doentes, mudou o laboratório para casa, e a mulher, compleição nervosa, teve de sofrê-los. Um dia, porém, não podendo mais, foi ter com o médico e pediu-lhe que, como cousa sua, alcançasse do marido a cessação de tais experiências.
— Mas a senhora mesma... Maria Luísa acudiu, sorrindo:
— Ele naturalmente achará que sou criança. O que eu queria é que o senhor como médico, lhe dissesse que isso me faz mal; e creia que faz...
Garcia alcançou prontamente que o outro acabasse com tais estudos. Se os foi fazer em outra parte, ninguém o soube, mas pode ser que sim. Maria Luísa agradeceu ao médico, tanto por ela como pelos animais, que não podia ver padecer. Tossia de quando em quando; Garcia perguntou-lhe se tinha alguma cousa, ele respondeu que nada.
- Deixe ver o pulso. - Não tenho nada
Não deu o pulso, e retirou-se. Garcia ficou apreensivo. Cuidava, ao contrário, que ela podia ter alguma cousa, que era preciso observá-la e avisar o marido e tempo.
Dous dias depois, — exatamente o dia em que os vemos agora, — Garcia foi lá jantar. Na sala disseram-lhe que Fortunato estava no gabinete, e ele caminhou por ali; ia chegando à porta, no momento em que Maria Luísa saía aflita.
- Que é? Perguntou-lhe. — O rato! O rato! Exclamou a moça sufocada e afastando-se.
Garcia lembrou-se que, na véspera ouvia ao Fortunato queixar-se de um rato, que lhe levara um papel importante; mas estava longe de esperar o que viu. Viu Fortunato sentado à mesa, que havia no centro do gabinete, e sobre a qual pusera um prato com espírito de vinho. O líquido flamejava. Entre o polegar e o índice da mão esquerda segurava um barbante, de cuja ponta pendia o rato atado pela cauda. Na direita tinha uma tesoura. No momento em que o Garcia entrou, Fortunato cortava ao rato uma das patas; em seguida desceu o infeliz até à chama, rápido, para não matá-lo, e dispôs-se fazer o mesmo à terceira, pois já lhe havia cortado a primeira. Garcia estacou horrorizado.
- Mate-o logo! Disse-lhe. – Já vai.
E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma cousa que traduzia a delícia íntima das sensações supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e fez pela terceira vez o mesmo movimento até a chama. O miserável estorcia-se, guinchando, ensangüentado, chamuscado, e não acabava de morrer. Garcia desviou os olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para impedir que o suplício continuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do homem impunha medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava cortar a última pata; Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto, para salvar, se pudesse alguns farrapos de vida.
Garcia defronte, conseguia dominar a repugnância do espetáculo para fixar a cara do homem. Nem raiva, nem ódio; tão somente um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma cousa parecido com a pura sensação estética. Pareceu-lhe, e era verdade, que Fortunato havia-o inteiramente esquecido. Isto posto não estaria fingindo, e devia ser aquilo mesmo. A chama ia morrendo, o rato podia ser que tivesse ainda um resíduo de vida, sombra de sombra; Fortunato aproveitou para cortar-lhe o focinho e pela última vez chegar à carne ao fogo. Afinal deixou cair o cadáver no prato, e arredou de si toda essa mistura de chamusco e sangue.
Ao levantar-se deu com o médico e teve um sobressalto. Então, mostrou-se enraivecido contra o animal, que lhe comera o papel; mas a cólera evidentemente era fingida.
— Castiga sem raiva, pensou o médico, pela necessidade de achar uma sensação de prazer, que só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem.
Fortunato encareceu a importância do papel, a perda que lhe trazia perda de tempo, é certo, mas o tempo agora lhe era preciosíssimo. Garcia ouvia só, sem, dizer nada, nem lhe dar crédito. Relembrava os atos dele, graves e leves, achava à mesma explicação para todos. Era a mesma troca das teclas da sensibilidade, um diletantismo sui generis, uma redução de Calígula.
Quando Maria Luísa voltou ao gabinete, daí a pouco, o marido foi ter com ela, rindo, pegou-lhe nas mãos e falou-lhe mansamente:
— Fracalhona! E voltando-se para o médico: — Há de crer que quase desmaiou?
Maria Luísa defendeu-se a medo, disse que era nervosa e mulher; depois foi sentar-se à janela com as suas lãs e agulhas, e os dedos ainda trêmulos, tal qual a vimos no começo desta história. Hão de lembrar se que, depois de terem falado de outras cousas, ficaram calados os três, o marido sentado e olhando para o teto, o médico estalando as unhas. Pouco depois foram jantar; mas o jantar não foi alegre. Maria Luísa cismava e tossia; o médico indagava de si mesmo se ela não estaria exposta a algum excesso na companhia de tal homem. Era apenas possível; mas o amor trocou-lhe a possibilidade em certeza; tremeu por ela e cuidou de os vigiar.
Ela tossia, tossia, e não se passou muito tempo que a moléstia não tirasse a máscara. Era a tísica, velha dama insaciável, que chupa a vida toda, até deixar um bagaço de ossos. Fortunato recebeu a notícia como um golpe; amava deveras a mulher, a seu modo, estava acostumado com ela, custava-lhe perdê-la. Não poupou esforços, médicos, remédios, ares, todos os recursos e todos os paliativos. Mas foi tudo vão. A doença era mortal.
Nos últimos dias, em presença dos tormentos supremos da moça, a índole do marido subjugou qualquer outra afeição. Não a deixou mais; fitou o olho baço e frio naquela decomposição lenta e dolorosa da vida, bebeu uma a uma as aflições da bela criatura, agora magra e transparente, devorada de febre e minada de morte. Egoísmo aspérrimo, faminto de sensações, não lhe perdoou um só minuto de agonia, nem os pagou com uma só lagrima pública ou íntima. Só quando ela expirou, é que ele ficou aturdido. Voltando a si, viu que estava outra vez só.
De noite, indo repousar uma parenta de Maria Luísa, que a ajudara a morrer, ficaram na sala Fortunato e Garcia, velando o cadáver, ambos pensativos; mas o próprio marido estava fatigado, o médico disse-lhe para repousar um pouco.
— Vá descansar, passe pelo sono uma hora ou duas: eu irei depois.
Fortunato saiu, foi deitar-se no sofá da saleta contígua, e adormeceu logo. Vinte minutos depois acordou, quis dormir outra vez, cochilou alguns minutos, até que se levantou e voltou à sala. Caminhava nas pontas dos pés para não acordar a parenta, que dormia perto. Chegando à porta, estacou assombrado.
Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-o na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero. Não tinha ciúmes, note-se; a natureza compô-lo de maneira que lhe não deu ciúmes nem inveja, mas dera-lhe vaidade, que não é menos cativa ao ressentimento. Olhou assombrado, mordendo os beiços.
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranqüilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.





EXERCÍCIOS

COMPREENSÃO TEXTUAL:


1 – Em poucas linhas defina o Tema:
Resp. Sadismo e impulso de agressividade humana, fonte de prazer – tortura – experimentos.

2 – Faça um pequeno resumo sobre os personagens principais do conto.

Resp. Fortunato. Capitalista, solteiro, 40 anos, homem político, com expressões dura, seca e fria.
Caráter maligno anormal, sádico, aterrorizante.
Garcia – médico –jovem gostava de teatro, masoquista, sofre pelo amor de Maria Luisa, sócio de Fortunato em uma casa de saúde.
Maria Luisa - esbelta, airosa, olhos meigos e submissos, nervosa, frágil e doente.

3 – Em base na leitura do Conto: A Causa Secreta faça uma análise breve.

Resp. O conto é narrado em terceira pessoa, narrador onisciente, conta a história de três amigos; Garcia, Fortunato e Maria Luisa já mortos, onde o autor faz um flashaback até o desfecho final.
Garcia protagonista do enredo, médico jovem, vê e observa Fortunato em uma peça teatral no qual fica muito cismado com o mesmo. Tempos depois diante de um fato de violência o jovem médico reencontra Fortunato no qual o ajuda a cuidar de um cidadão que se envolveu em uma briga e os dois acabam tornando-se amigos e sócio de uma casa de saúde.
Fortunato é visto por Garcia como uma pessoa de “boas ações”, mas, também como uma pessoa de deliciar-se com os sofrimentos alheios. Homem agressivo, sem escrúpulos, faz experimentos dolorosos com animais, onde em certa passagem do conto é relatado uma dessas maldades; (ele decepa um rato vivo, por prazer, com a desculpa de que o rato havia roído seus documentos) seu amigo que já freqüentava sua casa a convite do mesmo, assiste à cena que o impressiona e leva-o a desconfiar de suas atitudes.
Com a amizade entre o medico e a esposa de Fortunato, acaba despertando ao médico, certa simpatia e admiração que o autor deixa sem explicações quanto à dúvida em relação também de Maria Luisa.
Maria Luisa resignada ao marido não aprova às atitudes dele, e pede ao Garcia que interfira quanto aos sacrifícios e experimentos de animais.
Garcia apaixonados por Maria Luisa e está vem a morrer de tuberculose no final da trama, o leitor se surpreende ainda mais com Fortunato que ignora a morte de sua esposa, deixando o corpo a ser velado apenas pelo amigo durante a calada da noite.
Em certo momento ele aparece na sala, onde acontece o velório e flagra Garcia dando um beijo em sua esposa já inerte. Como se era de esperar a reação dele foi ao contrário, assisti à cena deliciando-se com a possibilidade de um triângulo amoroso sem se importa. O autor descreve Fortunato com um caráter sádico, com um comportamento doentio e ao mesmo tempo suas ações podem parecer de “bondade” e dedicação ao próximo.
Machado de Assis trabalha a ironia em seu conto, trazendo uma temática que encanta seus leitores até os dias de hoje, na forma de lidar com os seus escritos.



MORFOLOGIA – EXERCÍCIOS

1 – Grifar e classificar nos verbos no trecho:
“Garcia, em pé, mirava e estalava as unhas; Fortunato, na cadeira de balanço, olhava para o teto; Maria Luísa, perto da janela, concluía um trabalho de agulha. Havia já cinco minutos que nenhum deles dizia nada. Tinham falado do dia, que estivera excelente, — de Catumbi, onde morava o casal Fortunato, e de uma casa de saúde, que adiante se explicará.”

ESTALAVA - OLHAVA – CONCLUIA – HAVIA – DIZIA - MORAVA - MIRAVA PRETÉRITO IMPERFEITO – 3 ª PESSOA DO SINGULAR
TINHAM FALADO – PRETÉRITO PERFEITO + PARTICÍPIO – 3ª PESSOA DO PLURAL
ESTIVERA PRETÉRITO MAIS QUE PERFEITO – 1ª PESSOA DO SINGULAR
- EXPLICARÁ – FUTURO DO PRESENTE - 3ªPESSOA DO SINGULAR

2 - DEPOIS RELACIONÁ-LOS COM O INÍCIO DO CONTO. Os verbos nos leva à conclusão que o autor inicia seu conto fazendo um retorno ao passado. No primeiro parágrafo ele descreve a cena dos três personagens em uma conversa habitual, mas ressalva que todos estavam morto, e que adiante iria explicar o desenrolar dos fatos.

3 Colocar acento de crase onde for preciso.

a) “...... encontrou-se com Fortunato, pela primeira vez, a porta da Santa Casa; entrava, quando o outro saía.”
Repsta: à porta
b) “....... Ia devagar, cabisbaixo, parando as vezes, para dar uma bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava ganindo e ele ia andando.”
Resposta: às vezes -
c) “.......... O preto que o servia, acudiu a abrir a porta; o homem gemia, as vozes eram confusas, a luz pouca.”
Reposta: a porta – sem crase
d) “....... O homem gemia, as vozes eram confusas, a luz pouca.”
Reposta: as vozes.

SINTAXE – EXERCÍCIOS

1 – GRIFAR O PRONOME E CLASSIFICAR COMO: PRÓCLISE – ÊNCLISE

A) “Cuidado com o os capoeiras”! disse-lhe o dono da casa, rindo-se.
Reposta. Disse-lhe – ênclise – rindo-se – ênclise
Em seguida o que se passará.

Resposta: se passará próclise
2 – Classificar a oração:
Ela tossia, tossia, e não se passou muito tempo que a moléstia não tirasse a máscara.
1 oração - Ela tossia, tossia, e não se passou muito tempo – Oração principal –
2 oração - que a moléstia não tirasse a máscara. - Oração Coordenada Sindéticas Explicativa

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

TAREFA 2

REGISTRO DE NOTAS EM HISTÓRIA NO 2º BIMESTRE
2
3 NOME DO ALUNO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO NOTA TOTAL MEDIA
4 AMANDA DA SILVA 7 6 8 7 7 35 7
5 AMÉLIA SOUZA 6 8 7 4 5.5 30.5 6.1
6 APARECIDA MARQUES 8 8 7 5 9 37 7.4
7 BENTO SOUZA 6 4 5 6 7 28 5.6
8 CARLOS RODRIGUES 9 8 7 9 10 43 8.6
9

Plan2
A B C D E F G H I
1 SÉRIE NÚMERO DOS ALUNOS
2 1º ANO A 31
3 1º ANO B 29
4 2º ANO A 25
5 2º ANO B 29
6 3º ANO A 34
7 3º ANO B 30
8 4º ANO A 27
9 4º ANO B 25

terça-feira, 14 de outubro de 2008

MEUS TRABALHOS

Dom Casmurro
Machado de Assis
CAPÍTULO PRIMEIRO / DO TÍTULO
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
- Continue, disse eu acordando.
- Já acabei, murmurou ele.
- São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei.
Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você."-
"Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renan ia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."-
"Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça."
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo.
Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo.
O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua.
Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.
CAPÍTULO II/ DO LIVRO
Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. Vivo só, com um criado.
A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimilo, mas vá lá. Um dia. há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do tecto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos blocos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do tecto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens.
Quando fomos para a casa de Mata-cavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto de o tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor não conseguiu recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campossantos.
Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior é outra cousa a certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.
Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência. filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma "História dos Subúrbios" menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contassem alguns.
Talvez a narração me desse à ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto:
Aí vêm outra vez, inquietas sombras?... Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindos. De te modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.
CAPÍTULO III/ A DENÚNCIA
Ia entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondime atrás da porta. A casa era a da Rua de Mata-cavalos, o mês novembro, o ano é que é um tanto remoto, mas eu não hei de trocar as datas à minha vida só para agradar às pessoas que não amam histórias velhas; o ano era de 1857.
- D. Glória, a senhora persiste na idéia de meter o nosso Bentinho no seminário? É mais que tempo, e já agora pode haver uma dificuldade.
- Que dificuldade?
- Uma grande dificuldade.
Minha mãe quis saber o que era. José Dias, depois de alguns instantes de concentração, veio ver se havia alguém no corredor; não deu por mim, voltou e, abafando a voz, disse que a dificuldade estava na casa ao pé, a gente do Pádua.
- A gente do Pádua?
- Há algum tempo estou para lhe dizer isto, mas não me atrevia. Não me parece bonito que o nosso Bentinho ande metido nos cantos com a filha do Tartaruga, e esta é a dificuldade, porque se eles pegam de namoro, a senhora terá muito que lutar para separá-los.
- Não acho. Metidos nos cantos?
- É um modo de falar. Em segredinhos, sempre juntos. Bentinho quase que não sai de lá. A pequena é uma desmiolada; o pai faz que não vê; tomara ele que as cousas corressem de maneira, que... Compreendo o seu gesto; a senhora não crê em tais cálculos, parece-lhe que todos têm a alma candida...
- Mas, Sr. José Dias, tenho visto os pequenos brincando, e nunca vi nada que faça desconfiar. Basta a idade; Bentinho mal tem quinze anos.
Capitu fez quatorze à semana passada; são dous criançolas. Não se esqueça que foram criados juntos, desde aquela grande enchente, há dez anos, em que a família Pádua perdeu tanta cousa; daí veio as nossas relações. Pois eu hei de crer?. . . Mano Cosme, você que acha?
Tio Cosme respondeu com um "Ora!" que, traduzido em vulgar, queria dizer: "São imaginações do José Dias os pequenos divertem-se, eu divirto-me; onde está o gamão?"
- Sim, creio que o senhor está enganado.
- Pode ser minha senhora. Oxalá tenha razão; mas creia que não falei senão depois de muito examinar...
- Em todo caso, vai sendo tempo interrompeu minha mãe; vou tratar de metê-lo no seminário quanto antes.
- Bem, uma vez que não perdeu a idéia de fazê-lo padre, tem-se ganho o principal. Bentinho há de satisfazer os desejos de sua mãe e depois a igreja brasileira tem altos destinos. Não esqueçamos que um bispo presidiu a Constituinte, e que o Padre Feijó governou o Império...
- Governo como a cara dele! Atalhou tio Cosme, cedendo a antigos rancores políticos.
- Perdão, doutor, não está defendendo ninguém, estou citando O que eu quero é dizer que o clero ainda tem grande papel no Brasil.
- Você o que quer é um capote; ande, vá buscar o gamão. Quanto ao pequeno, se tem de ser padre, realmente é melhor que não comece a dizer missa atrás das portas. Mas, olhe cá, mana Glória, há mesmo necessidade de fazê-lo padre?
- É promessa, há de cumprir-se.
- Sei que você fez promessa... mas uma promessa assim... Não sei...
Creio que, bem pensado... Você que acha prima Justina? - Eu?
- Verdade é que cada um sabe melhor de si, continuou tio Cosme- Deus é que sabe de todos. Contudo, uma promessa de tantos anos... Mas, que é isso, mana Glória? Está chorando? Ora esta, pois isto é cousa de lágrimas? Minha mãe assuou-se sem responder. Prima Justina creio que se levantou e foi ter com ela. Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que tio Cosme entrou a dizer. Prima Justina exortava: "Prima Glória! Prima Glória!" José Dias desculpava-se: "Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo... "
CAPÍTULO IV / UM DEVER AMARÍSSIMO!
José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às idéias; não as havendo, servia a prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um arco de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinqüenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado se era dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da conseqüência, a conseqüência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!


TRABALHO COESÃO

2º TRABALHO DA PÓS GRADUAÇÃO: POLO DE JABOTICABAL
MATÉRIA: COMPREENSÃO TEXTUAL
PROFº LUIS ROBERTO WAGNER LUTEX.
ESCOLHER UM TRECHO DE UM ROMANCE
IDENTIFICAR TRÊS TIPOS DE COESÃO: REFERENCIAL, RECORRENCIAL E SEQUENCIAL. NO MÍNIMO : 10
ALUNA CARMELA CAPELANI POLETI


1- ............Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você."-....... COESÃO REFENCIAL POR SUBSTITUIÇÃO.
2 ............... A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimilo, mas vá lá. ....... COESÃO REFENCIAL POR SUBSTITUIÇÃO.
3- ...............”.venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.” ...... COESÃO RECORRENCIAL - RITMO

4-..............Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo..... COESÃO SEQUENCIAL POR REITERAÇÃO - SINÔNIMOS
5- ...........O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta.......... COESÃO SEQUÊNCIAL POR COMPARAÇÃO
6 -............. Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. Vivo só, com um criado. ...
COESÃO SEQUENCIAL – TEMPORAL.
7- ... Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido.
COESÃO SEQUENCIAL – TEMPORAL.
8-...Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa. ...
COESÃO SEQUENCIAL - JUSTIFICATIVA

9 -................é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do tecto e das paredes é mais ou menos igual, umas.....REITERAÇÃO NOMES GENERICOS
10.............. fomos para a casa de Mata-cavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior.
COESÃO SEQUÊNCIAL POR CONEXÃO

11- .............Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo...
COESÃO SEQUÊNCIAL POR EXPICAÇÃO OU JUSTIFICATIVA

carmela minhas atividades

ASSUNTO: Intertextualidade
TEMA: Canção de Exílio de Gonçalves Dias
TITULO: Análise das poesias intertextuais sobre a Canção de Exílio.





1. Aluna do 6º semestre do curso de Letras – UNISCATELO – Campus VIII
Av. Hilário da Silva Passos, 950 – Pq. Universitário – CEP 13690000-Descalvado-SP.
2. Professor de Literatura Sandro................. Faculdade de Letras- UNISCATELO – Campus VIII. Av. Hilário da Silva Passos, 950 – Pq. Universitário – CEP 13690000-Descalvado-SP




Palavra-chave: Intertextualidade
Área de concentração: Análise de poesias intertextuais.




RESUMO

O conteúdo deste artigo refere-se a analises das diferentes poesias feitas através da intertextualidade, tendo como base à poesia original do poeta Gonçalves Dias, “Canção de Exílio” que inspirou tantos outros poetas para demonstrarem seu amor e dedicação à sua Pátria. Também serão trabalhadas as biografias, como também, contexto histórico e literário da das épocas definidas.


ABSTRACT.


The content of this article refers to the analyze of the different poetries written through Intertextuality its base the poetry of Gonçalves Dias, " Song of Exile " that inspired so many other poets to demonstrate their love and dedication to the Homeland.
The biographies, as well as the historical and literary contexts of the defined period will also be discussed.




Key words: Intertextuality Song of Exile - Gonçalves Dias
Concentration Area: Brazilian literature









INTRODUÇÃO


A palavra intertextualidade significa interação entre textos, um diálogo entre ele, nesse processo, sempre haverá um texto original, que servirá de ponto de partida para outro texto. Nessas inter-relações encontramos informações em todas as áreas de conhecimento humano, história, literatura, religião, ciências. As inter-relações entre os temas podem ser estabelecidas por meio de livros didáticos, científicos, jornais, revistas e também por outros textos, filmes como pinturas e vivências.
A intertextualidade é um conceito operatório indispensável para a compreensão da literatura e também é muito usada em trabalhos acadêmicos. A citação deve ser feita quando adequada ao texto para explicar ou comprovar o que está sendo expresso, sem parecer apenas repetição.



EXISTEM DIFERENTES TIPOS DE INTERTEXTUALIDADE:

• Paráfrase: é elaborar um texto com as mesmas idéias apresentadas no texto original, usando outras palavras. Paráfrase ocorre quando existe uma grande proximidade entre o texto de base e o que dele se apropriou.
• Paródia: é recurso encontrado com freqüência na literatura. Reside na retomada de um texto, trabalhado com novas e diferentes intenções daquelas com que foi criado por seu autor. Encontramos paródias humorísticas, críticas, poéticas.
• Estilização: é uma reformulação do texto, preservando-se o sentido fundamental do original.
• Alusão: é uma referência rápida a um pensamento, a uma citação ou um provérbio.
• Polifonia, Referência, Epígrafe, Pastiche, Recriação Polêmica são outros recursos que os autores utilizam para compor suas poesias, baseando em textos matriz.


Em base à intertextualidade, desenvolvo meu artigo começando a citar uma frase de “Mário de Andrade” que dará condições de explicar o porquê da necessidade de criações de novos textos a partir da intertextualidade. “Sinto que meu copo é grande demais para mim, e ainda bebo no copo dos outros”.
No estudo comparativo das Canções de Exílio pode-se acompanhar a passagem de uma visão otimista para consciência pessimista de subdesenvolvimento. Muitos poetas utilizam os recursos da intertextualidade para produzirem seus textos e cada autor retrata no poema a realidade em que ele está inserido.
No século XIX a intertextualidade não era valorizada, a originalidade era priorizada, o importante era o “eu” lírico diferenciado.
A retomada de um texto por outro(s), em qualquer literatura, inclusive a brasileira, é, de qualquer forma, uma constante. A Canção de Exílio de Gonçalves Dias, por exemplo, já foi parafraseada, parodiada, criticada, entre outros tipos de intertextualidade em diversas épocas.
Observe-se, no entanto, que este mesmo poema já se inspira em outro, do poeta alemão Goethe.


Canção do Exílio Tradução
“kennst du das Land, Conheces o País onde
Wo die Zitriben bluhen, Florescem as laranjeiras?
Im dunkeln Laub die Ardem na escura fronde
Gold-Irangen gluhen? os frutos de ouro........
Kennst du es wohl? Conhecê-lo?
Dahin, dahin! Para lá, para lá.
Mocht’ich(.....) ziehn.” Quisera eu ir!
A proposta é de uma análise das “Canções de Exílio” da Literatura Brasileira, a partir da poesia de Gonçalves Dias, mostrando outros poetas que utilizaram-se dos recursos da Língua Portuguesa, para recriar suas poesias, dando enfoques diferentes, mas sem perder a essência da poesia matriz. Da leitura global do elenco de poemas deste artigo, podem-se observar os diferentes tipos de intertextualidade e a importância de um texto base para produção literária, teses, monografias entre outros trabalhos acadêmicos, que utilizam recursos literários para produzirem os próprios textos.
Inserida no grande jogo sócio-cultural encontra-se a literatura, campo de relações entre textos que assumem características especificas. O código verbal na literatura tem uma extensão de formas e significações tão grandes que impede o esgotamento de um texto em si mesmo.
Assim explica GREIMAS, 1993 “(...) é nele que de fato se traduzem e é através dele que se tornam comparáveis todas as outras linguagens (.....)”.



OBJETIVOS:
• Mostrar a importância da intertextualidade:
• Buscar referências que confirmem que qualquer trabalho acadêmico se baseia em conhecimentos de outras pessoas, ou seja, a intertextualidade.
• Analisar os deferentes tipos de intertextualidade utilizando o poema matriz Canção de Exílio de Gonçalves Dias.
• Verificar as relações de intertextualidade em outros textos a partir da poesia “Canção de Exílio” de Gonçalves Dias, que pela referente pesquisa conclui que há uma poesia escrita em Alemão, onde Gonçalves Dias baseou-se na época em que estava exilado para compor a sua própria poesia.
• Trabalhar o contexto histórico e literário das referidas épocas em que foram compostas as poesias.
• Analisar as poesias nos aspectos estruturais e formais (métrica e versificação).
• Analisar as figuras de linguagem.
• E o conteúdo das respectivas Poesias.



METODOLOGIA

Serão usados os métodos de pesquisas em livros, Internet, análise de cada canção. Os textos a serem analisados são referentes: à “Canção de Exílio e suas epígrafes”.

1. “Canção de Exílio – Gonçalves Dias”.
2. “Nova Canção de Exílio de Carlos Drumonnd de Andrade”.
3. “Canto de Regresso à Pátria de Oswald de Andrade”.
4. “Sabiá de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque de Holanda”.
5. “Canção do Exílio às Avessas Jô Soares”.




1- POESIA DE GONÇALVES DIAS.
CANÇÃO DE EXÍLIO
1843



“Minha terra tem palmeiras Em cismar, sozinho, à noite, Não permita Deus que eu morra,
Onde canta o Sabiá; Mais prazer encontro eu lá; Sem que eu volte para lá;
As aves que aqui gorjeiam, Minha terra tem palmeiras, Sem que desfrute os primores
Não gorjeiam como lá. Onde canta o Sabiá. Que não encontro por cá;
Sem qu’inda a aviste as palmeiras
Nosso céu têm mais estrelas, Minha terra tem primores, Onde canta o Sabiá.”
Nossas várzeas têm mais flores, Que tais não encontro eu lá;
Nossos bosques têm mais vida, Em cismar – sozinho, à noite -
Nossa vida mais amores. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


BIOGRAFIA: Antônio Gonçalves Dias nasceu no Maranhão em 10 de agosto de 1823. Estudou Direito em Coimbra, Portugal, entre 1840 e 1844; lá ocorreu sua estréia literária, em 1841, com poema dedicado à coroação do Imperador D. Pedro II no Brasil. Em 1843, escreveria o famoso poema Canção do Exílio. De volta ao Brasil, foi nomeado Professor de Latim e secretário do Liceu de Niterói, e iniciou atividades no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Nos anos seguintes, aliou a intensa produção literária com o trabalho como colaborador de vários periódicos, professor do Colégio Pedro II e pesquisador do IHGB, que o levou a fazer várias viagens pelo interior do Brasil e para a Europa. Em 1846, a publicação de Primeiros Cantos o consagraria como poeta; pouco depois publicaria Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos Cantos (1851). Suas Poesias Completas seriam publicadas em 1944. Considerado o principal poeta da primeira geração do Romantismo brasileiro, Gonçalves Dias que se orgulhava de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro (branca, indígena e negra), ajudou a formar, com José de Alencar, uma literatura de feição nacional, principalmente com seus poemas de temática indianista e patriótica.

CONTEXTO HISTÓRICO E LITERÁRIO: O Romantismo foi um movimento que configurou um estilo de vida e de arte predominantemente na civilização ocidental entre o período do séc. XVIII á séc. XIX. Refletem, no campo artístico, as profundas transformações históricas do período marcadas pelo apogeu do processo de transferência da liderança histórica da aristocracia para a burguesia.
Esse processo se deflagrou com a maior intensidade a partir do advento do Iluminismo, da divulgação de suas propostas pelos enciclopedistas, culminando com a Revolução Francesa. A partir daí os ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” escoam pelo mundo todo, anunciando transformações. Os donos do poder não são mais clero e nobreza, e o “sangue azul” deixa de ser as condições indispensáveis para o reconhecimento da sociedade. Surge com força uma classe social burguesa que tem o apoio do povo e das classes mais humildes.
A primeira geração é marcada pelo nacionalismo, patriotismo e, sobretudo, devido a sua exuberância tropical e erotismo, há uma exaltação à natureza brasileira que se contrapõe às paisagens das terras européias. Por representar à nossa volta a um passado genuinamente nacional, a figura do índio, em substituição a todos cavaleiros medievais, passa a ser vista como uma espécie de mito e lenda.
Por ser considerado o formador da nação brasileira, o índio passa a ser idealizado, a ele é sempre atribuída característica de herói, os primeiros Românticos o vêem sob um ângulo positivo. Assim surge o termo indianismo e o mito do bom selvagem, que marcou essa geração de poetas românticos brasileiros, cujos principais representantes são: Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias.

ANÁLISE: poesia de Gonçalves Dias: Ele retrata o Brasil com uma saudade de tudo o que aqui ficara. O texto é marcado por certa lusofobia, isto é, um sentimento de aversão aos valores portugueses, e também pode se observar que o poeta, quando está escrevendo, este coloca todo o sentimento de exaltação à paisagem, (Palmeira e Sabiá). Descreve o país com uma visão ufunista.
As saudades do Brasil e o sentimento nacionalista da época levaram Gonçalves Dias a escrever a Canção, referindo-se aos nossos elementos naturais superiores aos de Portugal.
Nos versos encontramos oxítonas (lá, cá, sabiá) que dão à poesia um ritmo, uma musicalidade de versos que são redondilhas maiores bem marcadas com a ferida oxítonas.
Notas-se que no poema de Gonçalves Dias há uma “saudade” de dimensão geográfica, como segue nos versos a seguir:
“Sabiá, há uma distância temporal”.
uma palmeira/ que já não há”
“a flor/ Que já não dá”.
Algum amor/ Talvez.”


A Canção de Gonçalves Dias leva o leitor a refletir o exílio, que acompanha nos homens e mulheres da humanidade, expulsos do paraíso, pela temeridade ancestral de nossos pais míticos – Adão e Eva que se entregaram à sedução do conhecimento sem limites e geraram, para sempre em nossa cultura, este sentimento inalienável de perda metafísica. A compreensão do poema, deve-ser observada através da localização geográfica pelos advérbios lá, cá, aqui.
A idéia das “palmeiras” onde canta o Sabiá repete-se ao longo do poema, exercendo, de forma sutil, o papel de refrão.
Canção do Exílio compõe-se de cinco estrofes. As três primeiras têm 4 versos e as duas últimas, 6 versos. As estrofes, em geral, podem ter de 2 a 10 versos, recebendo a seguinte denominação: a sílabas gramaticais formadoras as palavras que usamos na linguagem comum, não são as mesmas que sílabas métricas ou poéticas. A Canção de Exílio tem em seu contexto, sílabas gramaticais nas seguintes divisões:


Sílabas gramaticais Mi nha ter ra tem pal mei ras
Nº de sílabas 1 2 3 4 5 6 7 8
Sílabas métricas Mi nha ter ra tem pal mei * ras
Nº de sílabas 1 2 3 4 5 6 7 X

Nessa divisão os números de sílabas métricas e gramáticas não coincidi.

1 2 3 4 5 6 7 8
Em cis mar so zi nho a noi te
Mais pra zer en con tro eu lá
Mi nha ter ra tem pal mei ras
On de can ta o sa bi á

Na Canção de Exílio as rimas coincidem com as vogais e consoantes – sabiá e lá têm sons iguai na sílaba tônica; por isso são versos consoantes. Palmeiras e gorjeiam têm sons parecidos (apenas as vogais tônicas EI são iguais); são versos toantes.
A coincidência de vogais e consoantes: observe a primeira quadra de Canção do Exílio – sabiá e lá têm. A posição do acento tônico: neste caso as rimas podem ser: agudas (as palavras que rimam são oxítonas); graves (as palavras que rimam são paroxítonas); esdrúxulas (as palavras que rimam são proparoxítonas).
A distribuição nas estrofes: nesse aspecto, as rimas podem ser: emparelhas (sucedem-se duas a duas); alternadas (o 1º verso rima com o 3º, o 2º com o 4º etc.); cruzadas (o 1º verso rima com o 4º, o 2º com o 3º etc.); encadeadas (o 1º verso rima com o 3º, o 2º com o 4º e o 6º, 5º com o 7º e o 9º, e assim sucessivamente).

4 – NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Um sabiá Só, na noite, (Um sabiá,
na palmeira, longe. seria feliz; na palmeira, longe).
Estas aves cantam um sabiá, Ainda um grito de vida e
um outro canto. na palmeira, longe. voltar
O céu cintila Onde é tudo belo para onde é tudo belo
sobre flores úmidas. e fantástico, e fantástico:
Vozes na mata, só na noite, a palmeira, o sabiá,
e o maior amor seria feliz. o longe.


BIOGRAFIA: Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira-MG-1902 e morreu no estado do Rio de Janeiro em 1987.
Formou-se em Farmácia, em 1925; no mesmo ano, fundava, com Emílio Moura e outros escritores mineiros, o periódico modernista A Revista. Em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde, que ocuparia até 1945. Durante esse período, colaborou como jornalista literário, para vários periódicos, principalmente o Correio da Manhã.
Nos anos de 1950, passaria a dedicar-se cada vez mais integralmente à produção literária, publicando poesia, contos, crônicas, literatura infantil e traduções.
Entre suas principais obras poéticas estão os livros Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), A Rosa do Povo (1945), Claro Enigma (1951), Poemas (1959), Lição de Coisas (1962), Boitempo (1968), Corpo (1984). Além dos livros póstumos: Poesia Errante (1988), Poesia e Prosa (1992) e Farwell (1996).
Drummond produziu uma das obras mais significativas da poesia brasileira do século XX. Forte criador de imagens, sua obra tematiza a vida e os acontecimentos do mundo a partir dos problemas pessoais, em versos que ora focalizam o indivíduo, a terra natal, a família e os amigos, ora os embates sociais, o questionamento da existência, e a própria poesia.

CONTEXTO HISTORICO E LITERÁRIO: Nessa década, a economia mundial caminha para um colapso, que se concretizaria com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929. O Brasil vive o último ano da chamada República Velha, ou seja, o período de domínio político das oligarquias ligadas aos grandes proprietários rurais. Não por mera coincidência, a partir de 1922, com a revolta militar do Forte de Copacabana, o Brasil passa por um momento realmente revolucionário, que culminaria com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas.
Nesse processo verificamos a seriação das manifestações político-militares iniciadas com os disparos dos canhões de Copacabana, em 1922, e encerradas com o internamento da Coluna Prestes na Bolívia. Tais manifestações, inequivocamente de classe média, assinalavam o crescendo na disputa pelo poder. Nele verificamos, ainda, a seriação de manifestações de rebeldia artística a que se convencionou chamar Movimento Modernista, também tipicamente de classe média. De 1930 a 1945, o movimento modernista vive uma segunda fase, a qual reflete as transformações por que passou o país, que inaugura uma outra etapa de sua vida republicana.

ANÁLISE: Carlos Drummond de Andrade marca o início da segunda fase do Modernismo brasileiro, continuando as experiências da geração anterior, sobretudo de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira. Os aspectos mais evidentes da herança modernista em Alguma Poesia são: o versilibrismo, a oralidade, o prosaísmo, a supressão da pontuação convencional, a paródia, o humor, a linguagem telegráfica, a justaposição de frases nominais, a visão prismática do cotidiano, a cidade grande, a província, a fazenda. Todos esses procedimentos estilísticos e essas matérias acham-se sistematizados pelos primeiros modernistas, mas constituem também o modo de ser do livro inaugural de Drummond, cuja formação foi visceralmente marcada pela experiência da vanguarda dos anos 20.
Drummond usa a imagem do “sabiá” e da “palmeira” para sugerir um espaço onde tudo é fantástico. ( Note que o poeta já citou outro espaço? Ainda um grito de vida e voltar para onde é tudo belo e fantástico.) E que sua distancia deste espaço caracteriza o exílio.
Um dos elementos também interessante na construção do poema e o jogo de pontuação com as palavras “sabiá”, “palmeira” e “o longe” absorve que o fecho do poeta é a sublimação do advérbio: “longe” possa formar essa palavra adquire profundo valor para imagem do exílio: “o longe” é um ser, é uma grandeza que existe por si mesma, e não apenas uma referência à distância.


3– CANTO REGRESSO À PÁTRIA
OSWALD DE ANDRADE

“Minha terra têm palmares Minha terra têm mais rosas Não permita Deus que eu morra
Onde gorjeia o mar E quase que mais amores Sem que eu volte pra São Paulo
Os passarinhos daqui Minha terra têm mais ouro Sem que eu veja a rua 15
Não cantam como os de lá Minha terra têm mais terra E o progresso de São Paulo.”
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá.


BIOGRAFIA: Oswald de Andrade, poeta nasceu em São Paulo em 11 de janeiro de 1890. Filho de família rica estuda na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, em 1912, viaja para a Europa. Em Paris, entra em contato com o Futurismo e com a boemia estudantil. Além das idéias Futuristas, conhece Kamiá mãe de Nonê, seu primeiro filho, nascido em 1914.
De volta a São Paulo, faz jornalismo literário. Em 1917, passa a viver com Maria de Lourdes Olzani (ou Deise), conhece Mário de Andrade e defende a pintora Anita Malfatti de uma crítica devastadora de Monteiro Lobato. Ao lado deles, e de outros intelectuais, organiza a Semana de Artes Moderna de 1922.
Em 1924 publica, pela primeira vez, no jornal "Correio da manhã", na edição de 18 de março de 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil. No ano seguinte, após algumas alterações, o Manifesto abria o seu livro de poesias “Pau-Brasil”. Em 1926, Oswald casa-se com a Tarsila do Amaral e os dois tornam-se o casal mais importante das artes brasileiras. Apelidados carinhosamente por Mário de Andrade como "Tarsiwald", o casal funda, dois anos depois, o Movimento Antropófago e a Revista de Antropofagia, originários do Manifesto Antropófago. A principal proposta desse Movimento era que o Brasil devorasse a cultura estrangeira e criasse uma cultura revolucionária própria.
O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças, ele rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral e apaixona-se pela escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). O relacionamento com Patrícia intensifica sua atividade política e Oswald passa a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, o casal funda o jornal "O Homem do Povo", que durou até 1945, quando o autor rompeu com o PCB. Do casamento com Patrícia Galvão, nasceu Rudá seu segundo filho.
Depois de separar-se de Pagu, casou-se, em 1936, com a poetisa Julieta Bárbara. Em 1944, mais um casamento, agora com Maria Antonieta D’Aikmin, com quem permanece junto até a morte, em 1954.
Nenhum outro escritor do Modernismo ficou mais conhecido pelo espírito irreverente e combativo do que Oswald de Andrade. Sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século. A obra literária de Oswald apresenta exemplarmente as características do Modernismo da primeira fase.





CONTEXTO HISTÓRICO E LITERÁRIO: Das duas primeiras décadas do séc. XX teve uma rápida transformação urbana e industrial. O número de indústrias chegou a ser quatro vezes maior, se comparado aos primeiros cinco anos desse mesmo século.
Nesse momento, a pequena burguesia, formada por burocratas, comerciantes e pequenos industriais, começa a manifestar seu descontentamento com a política praticada pelo governo.
Esse descontentamento também ocorria no Exército Nacional, que desde 1894 mostrava sua insatisfação com algumas revoltas. Durante o processo eleitoral, surge o Movimento Tenentista, que apoiava a candidatura de Nilo Peçanha. Com a vitória de Arthur Bernardes, que dava continuidade à política do café-com-leite, as forças armadas começam conspirar contra o governo.
As primeiras informações sobre a Semana de Arte Moderna foram publicadas nos jornais "O Correio Paulistano" e no "O Estado de São Paulo" no dia 29 de Janeiro de 1922. Durante os dias que antecederam a realização do evento, várias notícias circularam pelos jornais da cidade, gerando uma grande expectativa em torno do espetáculo. Isso explica a enorme presença de público na noite de 13 de fevereiro, sendo que a poesia de Oswald de Andrade foi escrita no início de década de 1920, à mesma época da Semana de Arte Moderna.
Ela caracteriza por um nacionalismo crítico e por uma revisão não só do Brasil, mas também da produção literária anterior à década de 20. A poesia é denominada como crítica ao nacionalismo e tendo certo humor, por isso merece o destaque de o poema-paródia.

ANÁLISE: A poesia O Canto de regresso à pátria é uma releitura da “Canção de Exílio” de Gonçalves Dias, onde Oswald de Andrade faz uma paródia, irônica, uma espécie de “anti-Canção do Exílio”.
Através dessa paródia Oswald faz uma critica contundente ao Brasil, com a intenção de mostrar as riquezas do país como o ouro, ele faz uma referência aos palmares (Quilombo dos palmares), sua beleza e como o país foi explorado..
Tendo a preocupação em retornar e rever principalmente a cidade de São Paulo, onde na poesia destaca a “Rua 15” de Novembro, no centro da cidade e também o temor de não ver o progresso da referida cidade.
O poeta descreve o Brasil tendo em base à poesia original e também faz um poema-paródia com humor, onde vivem longe da realidade brasileira, por trás do humor e da sátira, permanece ainda o caráter nacionalista, dotado de uma perspectiva crítica.
A linguagem é coloquial e que tem na memória a “Canção do Exílio” original sofre constantes quebras de expectativa.


SABIÁ
ANTONIO CARLOS JOBIM
E CHICO BUARQUE DE HOLANDA



Vou voltar, sei que Ainda Vou deitar à sombra de uma palmeira Não sei ser em vão.
Vou voltar para o meu lar Que já não há Que fiz tantos planos
Foi lá e é ainda lá Colher a flor que já não dá de me enganar
Que eu hei de ouvir cantar E algum amor, talvez possa encontrar Como fiz enganos
Um sabiá, cantar uma sabiá As noites que eu não queria de me encontrar
Vou voltar, sei que Ainda E anunciar o dia Como fiz estradas
Vou voltar. Vou voltar, sei que Ainda de me perder
Vou voltar. Fiz de tudo e nada
de ter esquecer.

BIOGRAFIA: Chico Buarque de Holanda nasceu numa família de intelectuais (o pai foi o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda), em 19-7-1944, mudou-se ainda criança do Rio para São Paulo, onde sua formação acadêmica foi no Colégio Santa Cruz, e também, onde se apresentou pela primeira vez num palco, com "Canção dos Olhos", uma composição sua. Em 1963, ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. No ano seguinte, inscreveu-se no festival promovido pela TV Excelsior (São Paulo) com "Sonho de um carnaval" cantada por Geraldo Vandré. Começou a ficar conhecido, passando a apresentar-se no Teatro Paramount. Ainda em 1964, participou do programa “O Fino da Bossa Nova”, comandado pela cantora Elis Regina.
Dos anos de 1965 a 1973, Chico Buarque gravou inúmeras músicas, devido à repressão política foi o exílio na Itália. Voltou para o Brasil em 1970 e lançou o álbum "Construção" no ano seguinte.
Dos anos de 1972 a 1980, participou de filmes, compôs várias músicas, escreveu peças infantis como: Os Saltimbancos e outras. Escreveu o primeiro livro de sua autoria para crianças: O Chapeuzinho Amarelo, ilustrado por Danteli Berlandis. Chico Buarque de Holanda continua compondo suas música, escrevendo romances, e sendo uns dos maiores e respeitado artista nacional.


BIOGRAFIA: Antonio Carlos Jobim nasceu na noite do dia 25 de janeiro de 1927, Conde de Bonfim, 634 no Rio de Janeiro e morreu, na manhã do dia 08 de dezembro de 1994, de parada cardíaca, no Mount Sinai Center Medical em Nova York. Filho de Jorge de Oliveira Jobim e de D. Nilza Brasileiro de Almeida Jobim teve uma única irmã, Helena, professora e autora de vários livros, entre os quais "Antônio Carlos Jobim”, “Um Homem Iluminado”, o qual representa um emocionado depoimento de alguém que conviveu com o nosso maestro desde a sua infância até a sua morte. Tom casou-se em primeiras núpcias com Theresa Hermanny, no dia 15 de outubro de 1949, com quem teve 2 filhos: Paulo e Elizabeth. Mais tarde, em 1978, casa-se com Ana Beatriz Lontra com quem teve outros 2 filhos: João Francisco, e Maria L. Helena. Antonio Carlos Jobim foi iniciado musicalmente pelo maestro alemão radicado na Bahia, Hans-Joachim Koellreutter por quem nutria profunda admiração. Juntamente com João Gilberto, Tom foi um dos principais criadores de um dos mais importantes movimentos musicais do Brasil e do mundo, a Bossa Nova. As composições de Tom correram o mundo e hoje se situam entre as principais obras primas musicais do século XX. A música de Tom Jobim e Chico Buarque, “Sabiá” coloca o leitor diante de um “eu” que vive um exílio forçado, reflete as angústias geradas pelo ano mais negro da ditadura militar no Brasil, na década de 70.

CONTEXTO LITERÁRIO E HISTÓRICO: A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice-presidente de Jânio Quadros era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais. Estudantes, organização, populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os empresários, banqueiros. Os partidos de oposição, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), acusavam Jango de estar planejando um golpe de esquerda e de ser o responsável pela carestia e pelo desabastecimento que o Brasil enfrentava. No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil (Rio de Janeiro), onde defende as Reformas de Base. Neste plano, Jango prometia mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país.
Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo. O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1 (AI-1). Este cassa mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade de funcionários públicos.
Primeiro governo militar foi do General Castello Branco (1964-1967), foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em 15 de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a democracia, porém ao começar seu governo, assume uma posição autoritária. Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos políticos.
Segundo governo foi general Arthur da Costa e Silva (1967 a 1969), que foi eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil.
A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada. No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 (AI-5).
Em 31/08/1969 à 30/10/1969 doente, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica). Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente: o general Emílio Garrastazu Médici. Seu governo é considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido como "anos de chumbo". A repressão à luta armada cresce e uma severa política de censura é colocada em execução: Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística são censurados. Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos, torturados ou exilados do país.
Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento processo de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre econômico e com a insatisfação popular em altas taxas.
Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi em São Paulo.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da democracia no Brasil. Em 1978, entra no poder o general João Batista Figueiredo, que estende até 1985. A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de redemocratização. O general João Baptista Figueiredo decreta a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos voltam a funcionar dentro da normalidade.
O regime militar convertera-se no principal inimigo dos estudantes. A ditadura, de certa forma, significava a continuidade, no espaço público, do autoritarismo da casa paterna. Combatê-la era também combater a família conservadora e tradicional. A televisão se impôs como o meio cultural por excelência. Aparelhos receptores tornaram-se mais baratos e se disseminaram pelos lares das classes médias urbanas. A utilização do vídeo-tape, a partir de 1962, permitira a repetição de programas produzidos no eixo Rio - São Paulo por estações de todos os quadrantes. As emissoras regionais se multiplicam e começam a se associar com as do centro do país, iniciando o processo de formação das grandes redes.
. A associação entre a tevê e a música popular deu-se com o surgimento dos programas O fino da bossa, chefiado por Elis Regina, e Jovem Guarda, comandado por Roberto Carlos, ambos de 1965. O sucesso de audiência dos mesmos impulsionou espetacularmente o mercado de discos no Brasil, criou os novos astros da juventude e delimitou duas tendências opostas no campo da indústria cultural. Neste período, também o teatro teve um momento fascinante através dos grupos Oficina, Arena e Opinião. Mesclando um conteúdo político (simbólico ou explícito) com encenações de alto brilho, quando não totalmente inovadoras estes grupos teatrais mobilizavam multidões de jovens universitários. Nas peças de forte apelo ideológico os espectadores reforçavam os seus próprios ideais contestatórios.
De todas as manifestações culturais do período, a mais polêmica foi a do Tropicalismo. Aparecendo na música popular em 1967-1968, o Tropicalismo representou uma espécie de síntese entre vários movimentos artísticos dos 60 e mesmo da vanguarda de 1922.

ANÁLISE: A música de Chico Buarque e Tom Jobim, “Sabiá” coloca o leitor diante de um “eu” que vive um exílio forçado, reflete as angústias geradas pelos anos mais negros da ditadura militar no Brasil, na década de 70. Os autores mostram nos versos uma realidade que aprece desfigurada pela linguagem da ironia. Há uma tensão entre o passado (foi lá que ouvi cantar) e o futuro (vou voltar, hei de ouvir; vou deitar; (vou) colher, não vai ser em vão; a nova vida vai chegar, a solidão vai-se acabar), que é o tempo verbal que predomina neste poema.


“ Vou voltar, sei que Ainda
Vou voltar para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Um sabiá, cantar uma sabiá”

Enquanto a “saudade” de Gonçalves Dias há uma “saudade” de dimensão geográfica, no poema “Sabiá”, há uma distância que separa o eu poético da terra natal não propriamente dito espacial, mas temporal.


Nos versos:
“uma palmeira/
que já não há
........a flor/ Que já não dá”
“......algum amor/Talvez......”

Essa “palmeira, que já não há”, ressuscita em uma das mais lindas canções da música popular brasileira, de Chico Buarque Tom Jobim e, trocando agora o sabiá histórico pela sabiá que é algo a ser amado.


5 – CANÇÃO DO EXÍLIO ÀS AVESSAS
DE JO SOARES


Minha Dinda tem cascatas
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem coqueiros
Da Ilha de Marajó
As aves, aqui, gorjeiam
Não fazem cocoricó.
O meu céu tem mais estrelas
Minha várzea tem mais cores.
Este bosque reduzido
deve ter custado horrores.
E depois de tanta planta,
Orquídea, fruta e cipó,
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem piscina,
Heliporto e tem jardim
feito pela Brasil's Garden:
Não foram pagos por mim.
Em cismar sozinho à noite
sem gravata e paletó
Olho aquelas cachoeiras
Onde canta o curió.
No meio daquelas plantas
Eu jamais me sinto só.
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Pois no meu jardim tem lagos
Onde canta o curió
E as aves que lá gorjeiam
São tão pobres que dão dó.
Minha Dinda tem primores
De floresta tropical.
Tudo ali foi transplantado,
Nem parece natural.
Olho a jabuticabeira
dos tempos da minha avó.
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Até os lagos das carpas
São de água mineral.
Da janela do meu quarto

Redescubro o Pantanal.
Também adoro as palmeiras
Onde canta o curió.
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Finalmente, aqui na Dinda,
Sou tratado a pão-de-ló.
Só faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.
E depois de ser cuidado
Pelo PC, com xodó,
Não permita Deus que eu tenha
De acabar no xilindró.

BIOGRAFIA: José Eugênio Soares nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1938. Começou a trabalhar na TV Rio em 1958, no Rio de Janeiro RJ. Nas décadas seguintes, atuou em vários filmes, entre os quais: Sábado, de Ugo Giorgetti, O Homem do Sputinik, de Carlos Manga e Tudo Legal, de Victor Lima, entre outros. Também dirigiu e atuou no filme O Pai do Povo (1975). Em 1960 foi produtor dos programas Enrico Simonetti e Dick Farney Show, na TV Excelsior, em São Paulo SP. Na década de 1960 participou como ator, no seriado Família Trapo na TV Record; também expôs na IX Bienal de São Paulo e entrevistou personalidades internacionais no programa de Silvia Sampaio, na TV Record, demonstrando versatilidade artística que se acentuaria nas décadas seguintes. Nos anos de 1970 e 1980, foi co-autor e ator nos programas humorísticos de televisão: Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricon, O Planeta dos Homens e Viva o Gordo, na Rede Globo, e Veja o Gordo, no SBT. Entre 1988 e 1996 foi apresentador do programa de televisão Jô Soares, Onze e Meia, no SBT e apresentador do programa de rádio Jô Soares Jam Session, na rádio Eldorado AM. Publicou os romances O Xangô de Baker Street (1995) e O Homem que Matou Getúlio Vargas (1990), que alcançaram grande sucesso de público. Jô Soares é um político por meio do humor e não resistindo à melodia da Canção de Exílio fez a poesia “Canção de Exílio As Avessas de Jô Soares” e, virando-a pelo avesso, encheu a sua resistente ossatura com a carne generosa da política de regalias e privilégios do presidente cassado.


CONTEXTO HISTÓRICO E LITERÁRIO: Nos últimos anos do governo militar o país se encontrava com uma inflação alta e com uma recessão violenta. Com isso a oposição ganha terreno e fortalecimento com vários partidos novos que surgiram, e assim fortalecendo os sindicatos.
A Campanha pelas Dietas Já foi um movimento em 1984, onde os políticos de oposição, artista, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participaram do movimento. Esse movimento era favorável à aprovação da Emenda de Dante de Oliveira que garantia eleições diretas para presidente naquele ano, mas acabou sendo rejeitada e em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheu Tancredo Neves, (sendo seu vice José Sarney) que concorreram opondo-se à candidatura de Paulo Maluf.
Tancredo Neves ganha o cargo e com isso o fim do período militar acabou, mas com a doença de Tancredo Neves, e em seguida sua morte, quem toma posse é o vice-presidente, José Sarney.

Em 1988 é aprovada uma nova Constituição para o Brasil e nela o direito do povo eleger seu representante.
O governo Collor, eleito em 1989, de forma democrática, não durou muito, com tantos planos errados, escândalos, corrupções, desvios de verbas sociais, o governo foi investigado por uma CPI.
Sendo que no final da investigação, foi decido pela maioria do congresso e da satisfação do povo brasileiro o Impeachment, que significou o impedimento de governar o país, e também ficar inelegível por oito anos a qualquer cargo na política.
No campo literário temos busca de novas formas de expressão convivendo com a tradição da poesia discursiva e a permanência do regionalismo. Temos romances policiais e a consolidação de contos e crônicas; autores como: José Paulo Paes, Mário Quintana, João Ubaldo, Ruben Fonseca, Luis Fernando Veríssimo e tantos outros fazem parte da era às Produções Contemporâneas.


ANÁLISE: Com tantos escândalos apresentados durante o governo Collor, o escritor e humorista Jô Soares, aproveita a intertextualidade para recriar a uma paródia a partir da “Canção de Exílio de Gonçalves Dias”, descrevendo o cenário político da época.
Aproveitando para criticar o desempenho do presidente Collor e como cuidava das finanças do país em seu próprio benefício, e o conforto de sua família. Ele descreve em sua poesia o “paraíso” em que o presidente e sua família desfrutavam diante da pobreza e do abandono do povo brasileiro, que confiou em suas promessas nas campanhas de governo.
Nesse trecho “Minha Dinda tem cascatas / onde canta o curió/Não permita Deus que eu tenha / De voltar pra Maceió.” Jô Soares faz uma crítica em descrever a casa da madrinha do Collor, onde teria sido toda reformada para abrigar sua família, ele coloca aqui toda a indignação dos desmandos feitos durante seu o governo. Já talvez prevendo que a volta do Collor à Maceió era uma coisa necessária para o Brasil.
Como neste outro trecho “Minha Dinda tem piscina, / heliporto e tem jardim/feito / pela Brasil's Garden: / Não foram pagos por mim.”, Jô Soares tece uma critica ao esquema de desvios de verbas com inúmeras contas fantasmas em nome de familiares, amigos e funcionários de confiança do presidente, sendo denunciado por pertencer à organização Brasil’ Garden, acusada dos desvios para a reforma da então citada “Casa da Dinda”.
E ao longo da poesia Jô Soares continua a parodiar transcrevendo principalmente, do não desejo do presidente voltar para sua terra natal. Deixando bem claro que ser político no nosso país tem as vantagens de desfrutar de todas as regalias, e enriquecer através de falcatruas e esquemas hediondos.
No final da poesia “Não permita /Deus que eu tenha/ De acabar no xilindró.” veio de encontro com o final da era Collor, que o senado julgou-o e condenou-o como culpado pela sua conduta incompatível com a dignidade do cargo e todo o enriquecimento ilícito pedindo o seu Impeachment.




CONCLUSÃO


Após a pesquisa sobre a intertextualidade, concluí que é de extrema importância utilizá-la como um recurso tanto em produções literárias como em trabalhos acadêmicos. A minha intenção foi de analisar pormenorizadamente cada um dos poemas e realçar o processo intertextual e seus diferentes tipos. A intertextualidade foi essencial para produzir este trabalho, pois, tomei referências a estudos anteriores para realizá-lo.
Nas canções analisadas, chega-se a conclusão que todos os autores falam da Pátria com os mesmos sentimentos do autor Gonçalves Dias, mas de maneiras diferentes de ver os momentos e situações em que o país passou ao longo destes séculos.
A preocupação de todos os poetas analisados foi sempre em retratar a natureza, as palmeiras, flores céu, sabiá e tudo que inspiram em um poeta na realização de sua obra. Porém, tenho que ressaltar na última poesia analisada neste artigo, onde deparamos com uma paródia que vem à tona denunciar uns dos fatos mais tristes e lamentáveis em que o país passou na década de noventa, diante dos fatos já mencionados neste artigo.

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PAULINO, Graça et alii. Intertextualidade; teoria e prática. Belo Horizonte: Ed. Lê, 1995.
SANT`ANNA, Affonso Romano. Paródia, paráfrase e cia. São Paulo: Ática, 1985.
SAVIOLI, F. P. & FIORIN, J. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1998.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. São Paulo: Ática, 1986. (Princípios, 46)
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www.astormentas.com/drummond.htm
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www.portrasdasletras.com.br
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CITELLI, ADILSON O Texto Argumentativo Editora SCIPIONE
HISTÓRIA DO BRASIL 500 ANOS FOLHA DE SÃO PAULO.
VIGNER, GERARD – INTERTEXTUALIDADE, NORMA E LITERATURA.

minhas atividades proinfo- carmela

Minhas atividades
Esse ano estou com o projeto de substituição nas escolas, em Língua Portuguesa e Língua Inglesa. Não tenho sala fixa, mas minha sede é na E.M.E.F. Edna do Amaral, onde desde de o ano passado já atuava como professora substituindo. De agosto em diante fui solicitada para trabalhar também no NAICA, mais precisamente no Projeto Acolher, no lugar da professora que hoje está administrando esse curso, pois, ela se afastou da sala de aula, para dedicar-se à esse projeto.
Bem entrando no assunto tecnologia, como já expus tenho contato há muito tempo com computadore, fiz cursos, mas aprendi mesmo é lidando e sendo ousada, com ele. No meu entender o ser humano não pode ter medo de lidar com máquinas, porque enfim que as criou foi o homem, e não deve ser tão difícil assim entendê-las, é só ter vontade.
Em casa a internet, já faz parte da vida de todos, o PC fica ligado o dia todo e conectado na rede, usamos todos os tipos de consultas, sites, msn, orkut, google, para consultas.
Já é um vício estar à frente do PC para verificar e-mail, se há novidades no Terra, uol, etc..então a tecnologia já mudou bastante nossas vidas.
Quando estava estudando o uso do computador foi imprecendível para trabalhos consultas, desenvolver TCC. Na Pós Graduação também me auxilio na Monografia, com várias com consultas a site sobre o assunto.
O computador além de ser útil às pesquisas, também não deixa de ser um lazer, como jogos, conversas no bate-papo, orkut, msn., e para trocar-mos correspodências vias e-mail.

प्रोंफो देस्काल्वादो

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